17/05/09

Metamorfoses XI

Lisa Milroy - Finsbury Square (1995)

na esquadria da folha ou no rectângulo ao centro
na imagem que se tem da periferia
ou no sonho que se ergue pela noite
– diante de um espelho manchado pelo fumo –
descubro o meu cansaço de homem moderno
cheio de razões de papel e de quadrículas
onde inscrevo as rodas de carvão
que alumiam as mãos ensanguentadas

sou o mais moderno dos modernos
aquele que caiu para além de toda a modernidade
e sigo a velejar teorias ou a sulcar um mar de névoa
para descobrir o destino e nele nada encontrar
nem um deus nem um homem nem um pássaro
apenas casas de pedra de onde roubaram
o colmo que cobria como se fora um telhado
as pequenas histórias sem heróis nem vilões

que faziam do mundo a paisagem vazia
farta de progressos cansada de revoluções
apenas um amontoado de canas junto à estrada
dobradas pelo ar deslocado dos carros em fúria
enquanto nós sonâmbulos cantávamos
de esquina em esquina um cântico cruel
e abraçávamos fiéis as poucas putas
que deus como um sinal nos enviava

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