A irracionalidade da razão
Vi há pouco, na SIC, um programa sobre o estado da justiça em Portugal. Talvez porque esteja demasiado sensível ao assunto, mas o que mais me sensibilizou foi a intervenção de um juiz que lamentava não poder proferir sentenças como o fazem os seus colegas anglo-saxónicos. Uma sentença que lá ocupa duas páginas, cá precisa de centenas. Portugal vive uma paranóia burocrática. Conheço-a muito bem a partir da profissão de professor. A escola portuguesa é irmã gémea dos tribunais portugueses: papéis, papéis, papéis. Isto tem um divertido efeito perverso. Burocracia designa, segundo Max Weber, a organização racional do Estado. Mas em Portugal a burocracia é sinónimo da irracionalidade que se apossou das instituições e da própria sociedade. Decididamente, nós portugueses não temos jeito para a racionalidade. Quando nos pomos a organizar racionalmente seja o que for, o que cresce é a irracionalidade, a paranóia e o devaneio burocráticos. Ao menos, poderíamos ser irracionais sem papéis. Estes, porém, são necessários para nos podermos convencer, erradamente, que somos racionais. Não somos.
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