Metamorfoses XII
não haverá colheitas este ano
as sementes lançadas à terra coalharam
e no lugar da vida cresceu uma cidade de cristal
aí os vagabundos encontram pela noite
camas de pedra onde dormem se chove
mas já não estamos em tempo de nostalgia
aqueles que aqui vivem apenas a cidade sabem
e o luar que vêem nunca os recorda
aquela lua amarela contra as trevas do céu
ou o rumor do vento na sombra das árvores
há uma vasta arquitectura grafitada em papel
um risco de saliva lembra a infância
onde a noite vinha sempre enfeitada de néon
e um barulho surdo era tudo o que havia
para oferecer à futura melancolia do passado
uma lâmpada ilumina assim o meu fracasso
e traz-me todo para esta cidade sem paisagem
os olhos encovados contam prédios desertos
e abandonado entre carros apodrecidos
faço o mapa vazio de cada lugar que perdi
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