Metamorfoses XVI
tudo se desvanece nesta hora de cinza
a mão que estendias e as grandes palavras
– um dia deram-mas como se fossem um deus
ou colírio contra a indigestão talvez o mau-olhado –
e também a esperança de um crepúsculo
ou de uma manhã pintada de glória
num daqueles mausoléus onde dormem os pardais
foi assim que eu pensei a cadência das estrofes
enquanto meditava no calor e cuspia para o chão
esperando que o polícia me prendesse
e se tornasse pública a minha irrisão
eu rei de todas as sarjetas e buda da estrumeira
declaro a minha santidade nos cantos de cada prédio
ou na espiral de vento que me arrasta o cérebro
já nem postos de gasolina há pela cidade
onde comprar combustível para incendiar roma
ou aquecer-me nas noites invernosas a vir
fosse eu o anjo da história e ter-me-ia suicidado
para que os homens cantassem o sossego das horas
mas deus riu-se do desejo e aliviou-me da cruz
para que morra ao rebolar-me inerte pelas lixeiras
Sem comentários:
Enviar um comentário