31/05/09

O mistério Daniel Sampaio

Daniel Sampaio dá ao seu artigo de hoje, no Público, o título O mistério da sala de aula. Faz um bom retrato, mostra mesmo aquilo que é necessário, mas quando passa a concretizar as suas propostas dá-nos, mais uma vez, uma perspectiva que o aproxima do mais radical eduquês. Para mim, é um mistério que Daniel Sampaio não perceba que aquilo que defende é uma das causas fundamentais do mal que se propõe combater. Nem sempre o descentramento de quem está de fora é o melhor caminho para perceber a realidade.

Por exemplo, Daniel Sampaio diz: "Nesta perspectiva, há muito que defendo que a "ordem" na sala de aula, o "portar-se bem" de que falam os professores, resultam muito mais se forem elaborados pelo conjunto e aceites pelo grupo, do que impostos por um regulamento não participado e elaborado em gabinetes." Isto é muito bonito, mas em geral não funciona. É preciso uma ordem e uma autoridade prévias, que se façam reconhecer por todos, antes que se possa estabelecer acordos tácitos entre professores e alunos. A autoridade não nasce do contrato. Pelo contrário, o contrato nasce da autoridade e é sancionado por esta. Eu sei que sou suspeito, pois não sou propriamente um crente nas doutrinas contratualistas que a modernidade ficcionalizou para justificar a existência da autoridade política. Então, quando essas doutrinas são aplicadas à escola, numa relação entre adultos e não adultos, o desastre é a única coisa que poderemos esperar.

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