Metamorfoses XVII
desta porta avista-se um traço de rancor
as janelas abertas sobre a paliçada do medo
os vidros partidos pela inclemência da música
e a calvície que tomou conta das casas
não vale a pena olhar para os astros
e saber se a conjugação dos planetas era favorável
o barco foi aparelhado e já voga mar dentro
sem marujos de papel ou capitão que o dirija
mandei derreter a bússola para poder cantar
os últimos mapas entreguei-os num bar
em troca de vinho e da ternura de uma puta
que me aquecesse por instantes o coração
por isso já nada quero saber da história
mesmo quando a cerveja me tolda a cabeça
queimo extático cada um destes livros
para ver a carícia do fogo no papel a arder
depois em descuido sopro para o chão a cinza
e espero que me insultem ao virar da esquina
sempre queimei três mil anos de labor humano
ao menos podia usar o papel para limpar o cu
1 comentário:
Muito bom...Será desta vez que sai o livro....??...
Enviar um comentário