O vate político
Acabou-se o suspense sobre o destino do vate político de Águeda. Deu em nada como era de esperar, pois Alegre não tinha nada para dar. Ser uma espécie de consciência ética de esquerda dentro do Partido Socialista é ser rigorosamente nada.
Eu continuo a acreditar que há uma diferença entre a esquerda e a direita, mas essa diferença precisa de ser pensada à luz dos acontecimentos das últimas décadas. Ora, como é público e notório, Manuel Alegre não pensa rigorosamente nada sobre o assunto e não tem nada a dizer sobre o mesmo. E, no entanto, há coisas a dizer e a fazer que o Partido Socialista, devido à sua deriva jacobina, nunca será capaz de o dizer e ainda menos de o fazer. Essas coisas também não serão ditas nem feitas pelo PCP e pelo BE, cujos imaginários são anti-liberais, anti-capitalistas e revolucionários. Manuel Alegre teria aí a sua janela de oportunidade, que agora fechou definitivamente para gáudio de Sócrates e do aparelho jacobino socialista.
Apesar de tudo isto, não deixo de simpatizar, enquanto pessoa e representante de um certo ethos cavalheiresco, com Manuel Alegre. O seu principal problema reside, porém, no facto de ele se portar na política como um vate e na poesia como um político. O que não é bom nem para o político nem para o poeta.
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