Metamorfoses XVIII
sob o jugo das paredes caminha o herói
traceja linhas e chama-lhes esperança
mas tudo no corpo o trai
as vísceras revolteiam enfadadas
pois o cheiro a decomposição
vem fazê-lo mergulhar num mar de asco
como se a terra não fosse mais
do que aquele labirinto sulfuroso
a metáfora moribunda do inferno
os músculos desagregam-se com lentidão
mas cada passo é mais incerto
e a coragem que enchia o peito
joga-a agora o vento pelo chão
não se lembra das terras sombrias
nem da enseada onde a mãe o gerou
caminha quase parado
e desespera dentro da couraça de ferro
não há deus que por ele venha
nem porta que para a luz se abra
tão imenso caminha o herói
e não sabe ainda o desenlace fatal
a cada volta do labirinto enegrece o destino
e quando a besta horrível cai
é a sua pele que vê rasgada
e o grito animal que pelo mundo ecoa
é apenas o seu próprio ponto final
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