21/05/09

Paisagem e despovoamento


Temos todos uma miríade de conhecidos. Desses, há alguns com quem falamos, trocamos opiniões, de quem, eventualmente, nos tornamos amigos para a vida ou para parte dela. Há outros conhecidos, porém, com quem nunca falámos, mas que fomos lendo, fomos sabendo deles através do que escrevem, do que pintam, do que compõem, ou por outro motivo qualquer. Conhecidos conhecidos e conhecidos desconhecidos fazem parte da nossa paisagem, compõem um médium que nos liga ao território. Dessa paisagem fazia parte João Bénard da Costa, a sua ligação ao cinema, as suas crónicas no Público. Agora já não faz. Ou talvez comece a fazer parte de outra paisagem, a da memória que se inscreve sobre o esquecimento.

Este tipo de acontecimentos, faz-me recordar o sub-título desse estranho romance de Carlos de Oliveira denominado Finisterra. O sub-título é o não menos estranho paisagem e povoamento, como se um romance fosse uma narrativa geográfica ou mesmo geofísica. Mas a experiência que, a partir de certa altura da vida, vamos tendo não é a de povoamento. Pelo contrário, a nossa paisagem despovoa-se, os conhecidos, incluindo aqueles com quem nunca falámos, abandonam-na e temos muita dificuldade de introduzir novos conhecidos na paisagem. Com o passar dos anos a paisagem vai-se tornando cada vez mais desértica até que, um dia, cansados de areia a deixamos também. [Aqui, uma pequena nota biográfica sobre João Bénard da Costa]

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