Metamorfoses XV
não me lembrava que em veneza havia
um inverno branco a cantar sobre o regaço
de quem perdido entre carros adormecidos
caminha deserdado para o anoitecer
nessa terra não há frutos maduros
nem uma praia marejada por canaviais
o último construtor de herbários
retirou-se exausto para longe do mar
que deuses do prazer invocaremos agora
se as portas dos bares estão fechadas
e nos hotéis restam apenas alguns hóspedes
presos à caligrafia de um sonho derradeiro
sonâmbulo rastejo entre semáforos
e entrego a pele febril ao nevão do dia
não espero nem lua nem sol
nem que respondas à minha pergunta
pudesse ser uma âncora sobre a terra
ou um vómito azedo ao crepúsculo
pudesse ter uma gota de sangue nas veias
ou um punho decepado pela noite
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