Provas de aferição
Vai pela blogosfera um grande banzé por causa daquilo que os professores devem dizer nas provas de aferição do 4.º e 6.º ano de escolaridades. Há instruções absolutamente padronizadas, que os professores devem seguir rigorosamente à letra, sem sequer as interpretar. Como é público e notório, eu não tenho qualquer tipo de simpatia pela equipa dirigente do Ministério de Educação, mas convém perceber o que se está a passar com o assunto em causa.
Em primeiro lugar, as provas de aferição não são exames, mas um estudo à escala nacional do desempenho do sistema educativo e das escolas que o compõem. Os professores também não são vigilantes de exames. São aplicadores de um instrumento de medida (os testes de Língua Portuguesa e de Matemática). Esta é a realidade teórica da coisa.
Em segundo lugar, não foi esta equipa ministerial nem o Ministério da Educação português que inventou este tipo de procedimentos padronizados e estereotipados. Eles são a regra dos estudos internacionais sobre os sistemas educativos. Existem, por exemplo, no PISA e nos Estudos Internacionais de Matemática e Ciência (lembro-me, até porque fiz parte das equipas de controlo da aplicação desse estudo, de Portugal ter participado no TIMSS - Third International Mathematics and Science Study). Estes procedimentos não têm natureza pedagógica mas "científica". Visam uma uniformização da aplicação dos testes, para evitar que condutas subjectivas dos aplicadores possam introduzir um enviesamento nos resultados. Neste caso, não há qualquer falta de consideração pelos professores, como vi escrito por aí. É uma medida epistemológica, digamos assim.
O principal problema é mesmo a existência destas provas. O sistema não precisa destes estudos (aliás, uma amostra relativamente pequena seria o suficiente para o sistema se avaliar), mas de um nível de exigência mais elevado. Esse só viria com a reintrodução de exames, nas várias disciplinas, nos finais de ciclo. Ora isso é o que nenhum político quer. Exames com consequências para o percurso escolar dos alunos implicam reprovações e a permanência de muitos alunos mais tempo dentro do sistema. Implicariam também a selecção dos percursos de formação. Ninguém está interessado nisso. Todos gostamos de fingir que as coisas vão o melhor possível. As provas de aferição são uma espécie de fait-divers para os alunos e, mais tarde ou mais cedo, servirão para avaliar os professores, dentro da lógica invertida que o actual ministério inventou.
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