15/05/09

Não me fodam!


É assim que se perde a pouca reputação que se tem. Pois é, caro leitor, também eu aprendi a dizer palavrões. Bem, não foi assim lá muito cedo. Sou um pouco retardatário em tudo. Fruto da educação católica que recebi, vinda da minha mãe e com a cumplicidade ateística do meu pai, até aos palavrões cheguei tarde e a más horas. Mas acho que os aprendi todos.

Não me fodam!, por outro lado, não é bem uma expressão vulgar ou ordinária, e aquele palavrão nem soa a palavrão. É um programa de vida, uma máxima existencial dos portugueses. Quando se perdeu todas as esperanças, quando já nem se desespera, os portugueses nem querem foder, mas apenas evitar serem fodidos. Aqui resume-se toda a metafísica nacional, incluindo nela o livro do professor Gil, Portugal - O Medo de Existir, as trovas do Bandarra, o sapateiro de Trancoso, e a demanda do V Império.

O país da não inscrição, que Gil tematiza, é o país do Não me fodam! Um povo que tem esta expressão por lema, como pode ele inscrever seja o que for. Tomara ele que não inscrevam nada nele. Há uns anos atrás, depois da revolução dos cravos e da entrada para a União Europeia, os portugueses imaginaram-se zezés camarinhas que iam comer a estrangeirada toda. Desde os marcos alemães e os francos franceses até às libras inglesas, nada lhes haveria de escapar. Mesmo as pobres liras italianas haveriam de marchar. Doce ilusão. Uns quantos galos, mais espivatadotes, conluiarem-se e o regabofe foi só para alguns convidados. Acabado o deboche, a galarada sem a matéria-prima internacional voltou-se para os do costume, isto é, para os portugueses em geral. É a isso que agora chamam crise. Aos do costume resta-lhes o seu velho programa de vida: Eh pá, não me fodam! Mas estão enganados.

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