14/05/09

Metamorfoses IX

Luc Tuymans - Die Zeit 1-4 (1988)

apenas um halo breve e impreciso
o risco de sombra inquieto
a melancolia de um domingo à tarde
o mundo gira agora em torno de que eixo
perguntaste como se os meus olhos
não fossem rasos e negros de carvão

o ruído que nasce naquele silêncio
traz a unção de uma voz ensanguentada
é tudo tão abstracto – suspira –
cortaram as árvores e deixaram secar
os miosótis entre o cheiro a borracha
e a pedra lacerada pelo frio que vem

perderam assim todo o pudor
e cavalgam pelas ruas vazias de onde
os últimos homens foram expulsos
entre braços decepados – tão inertes –
e enxames de varejeiras viscosas
que zunem no espelho do anoitecer

não vale a pena encher de ar os pulmões
e cantar aqueles hinos que então havia
as paredes estão cansadas de tanta cal
e o risco que te fazia esvoaçar os cabelos
há muito que esfriou naquela casa
onde a luz rufava despertando a noite

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