07/05/09

Sobre posters, cartazes e Ideias


Por causa do post anterior onde se dava conta do blogue Rato's Movie Posters, fui levado à reflexão sobre essa estranha relação entre o cinema e os posters ou cartazes em que ele se faz anunciar. Estes podem tornar-se uma paixão. Que poder terão eles para desencadear esse tipo de paixão e para que a indústria cinematográfica não os dispense na publicitação dos seus produtos?

Como também se disse no post anterior, há uma estranha perversidade nesta relação entre o cinema e os cartazes onde ele se anuncia (isto é, se noticia na esfera pública) e apresenta (isto é, onde ele se torna presente). O cinema parece-nos mais próximo da vida, pois imita o movimento que habita esta. A imagem combinada com o movimento, a imagem que se move, é mimésis da existência dos homens, da sua acção. O cinema, enquanto forma de expressão artística, parece ultrapassar as limitações de artes anteriores como o romance e a pintura. Mostra-nos as imagens que o romance apenas descreve, dá-nos o movimento que a pintura, em aparência, suspende. Por que precisará ele então, para se anunciar e tornar presente, da fixidez do poster/cartaz?

Hipótese: a verdade de um filme encontra-se toda no cartaz que o anuncia e o torna presente. O cartaz não é um resumo do filme. O filme é que é a explicação, no tempo, de um cartaz. O cartaz, na sua fixidez, é uma imitação da eternidade; o filme, não passa de mimésis da temporalidade. Do ponto de vista do processo de produção, o filme é anterior ao cartaz que o resume; mas, do ponto de vista ontológico, o cartaz é anterior ao filme.

Estas reflexões inusitadas levam-nos a tocar a teoria platónica das Ideias. Estas são eternas e imutáveis, e constituem o modelo que dá realidade às coisas sensíveis, ao mundo dos seres onde nos encontramos. Também o cartaz é a a Ideia ou Paradigma que dá o ser ao próprio filme. Aqui encontramos um caminho de disputa com a estética platónica. Os produtos artísticas não são, como pensava Platão, cópias das cópias (objectos sensíveis) da realidade. Não são fantasmas de fantasmas, são verdadeiras Ideias, paradigmas segundo os quais a vida no mundo sensível decorre. O poster cinematográfico é a Ideia que dá ser a um filme, que por sua vez é Ideia que dá ser à vida quotidiana dos homens. Na eterna imutabilidade de um poster cinematográfico, concentra-se toda a possibilidade da existência. A Ideia platónica não é outra coisa do que a sublimação da obra de arte num mundo imaginário. A diferença pode encontrar-se no facto de a Ideia excluir de si todo o movimento, as obras de arte, na sua fixidez, contêm em si, de forma potencial, o movimento que a vida dará corpo.

1 comentário:

maria correia disse...

Há poster inolvidáveis...recordo o de Vivien Leigh e Clark Gable em Gone With the Wind...perfeitamente mágico. Diria mesmo sublime.