20/01/08

Jorge Almeida Fernandes - Habermas e Ratzinger

É útil voltar atrás, ao debate de 2004 entre Ratzinger, então cardeal, e o filósofo alemão Jürgen Habermas, um "ateu metódico". Para este, o debate com a Igreja é incontornável na questão dos valores. O cristianismo, diz, é o fundamento último da liberdade, dos direitos humanos, da civilização ocidental: "Não dispomos de opções alternativas. Continuamos a alimentarmo-nos desta fonte. Tudo o resto é palavreado pós-moderno." Perante o rolo compressor da globalização, os Estados liberais devem salvaguardar "os seus recursos culturais e morais, dos quais a religião faz parte". Habermas citou o filósofo político E.W. Bockenforde. "A Igreja não deve intervir directamente no domínio do Estado, na legislação ou nos poderes executivo e judicial. Mas é preciso lembrar que, previamente à ética de facto preconizada pelo Estado para os cidadãos, existe um ethos pré-político. O Estado secularizado deve submeter-se às normas que o precedem. (...) A Igreja tem o direito e o dever de se referir às normas fundamentais que decorrem da própria essência do ser humano." [Público, de hoje. Negrito nosso.]

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