O Islão e a violência
Durante uma festa religiosa em Caxemira eclodiram, mais uma vez, cenas de grande violência entre muçulmanos xiitas e sunitas. É possível estabelecer uma relação, a este nível, entre o Islão e o Cristianismo? Até certo ponto. Também entre cristãos a violência foi enorme, nomeadamente nos acontecimentos pós-Reforma luterana. Um resquício desses acontecimentos é a situação na Irlanda do Norte. Mas no cristianismo, devido à sua própria natureza apolítica, foi possível escutar palavras como as de Locke (cf. Carta sobre a Tolerância). No Islão, porém, não há uma separação entre a religião e a política. A consequência é a guerra que existe, desde a morte do Profeta, entre sunitas e xiitas. É esse potencial de violência, nunca efectivamente reconciliada, que dinamiza também a violência do Islão para com o mundo exterior. O Islão terá grande dificuldade de viver em paz com os outros enquanto não conseguir viver em paz consigo mesmo. Mas para o Islão viver em paz consigo mesmo seria necessário, como ensina John Locke, distinguir claramente a esfera religiosa, de natureza subjectiva, da esfera política e jurídica, de natureza colectiva. Ora nem os textos nem as tradições parecem autorizar tal esperança. O conflito com mais de 1300 anos prolongar-se-á infectando continuamente o Islão e tornando-o cada vez mais um foco de instabilidade geopolítica.
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