11/01/08

Pretérito Imperfeito - II. Se a ausência fosse

Se a ausência fosse
apenas um raio verde,
ou uma esquadria aprisionada,
ou um vidro quebrado pela manhã;

se fosse apenas a soleira da porta
onde não passas,
ou um sobejo de pão ao jantar,
ou uma tristeza erguida pelo tempo;

se fosse apenas a mancha de café
sobre a saia,
ou uma planície de lâminas,
ou um novelo de poeira ao sol da tarde;

se apenas fosse tudo isso,
ainda haveria na ruína da tua voz
um relâmpago de palavras
a iluminar a sombra do coração.

[JCM. Pretérito Imperfeito. 1981]

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