10/01/08

Pretérito Imperfeito - I. Quando voltamos a um tempo

Quando voltamos a um tempo,
ao joio dos dias,
às ruas gastas de tanto caminhar,
só nós voltamos,
de mãos exaustas
e olhos presos na terra.

Quando voltamos,
ninguém reconhece o viajante,
há muito ele partiu.
A face grave
é uma sombra de violeta
perdida entre um negócio
de mulheres
e ruas ávidas de flores.

Quando voltamos a um tempo,
as horas são rosas secas,
folhas tombadas,
vozes incertas
e um olhar perdido,
extasiado de erva,
esquecido da luz.

Na noite, ouve-se um grito
e voltamos;
o silêncio chama por nós.

[JCM. Pretérito Imperfeito, 1981]

Sem comentários: