Selecção de alunos na escola pública
Como se pode enviesar a realidade através da ciência ou da pseudociência? Quer um exemplo? Os chamados estudos sobre a selecção de alunos nas escolas públicas, da autoria de dois sociólogos do ISCTE (ver no Público). É um facto que há escolas que fazem selecção de alunos. Quem não conhece um caso perto de si? Também é verdade que, em muitas escolas, as turmas acabam por se dividir segundo critérios que espelham a estrutura social. No entanto, a causa real não está na questão social. O problema é outro.
Imagine o leitor que é pai de um filho aplicado que quer estudar. Imagine, ainda, que esse seu filho tem múltiplos colegas de turma que, como ele, querem estudar. Imagine, mais uma vez, que caem dentro da turma quatro ou cinco alunos que não partilham os interesses académicos dos restantes colegas e têm por actividade preferida boicotar sistematicamente as aulas, impedir que se trabalhe, criar uma situação de indisciplina generalizada. Pode crer que não são precisos mais de três a quatro alunos para o conseguir.
Imagine ainda, o leitor, que não pertence às classes médias e altas, mas que vive do seu trabalho por conta de outrem, com sacrifício. O que é que pretende para o seu filho? Que ele esteja integrado numa turma onde possa trabalhar ou que todas as turmas sejam uma mistura entre alunos que querem trabalhar e alunos que preferem boicotar as aulas? É este o problema.
Estes estudos têm uma finalidade política interessante: legitimam mudanças na lei. Mas não percamos a capacidade de imaginar e pensemos na seguinte situação: todas as turmas das escolas públicas passam a ser uma mistura entre alunos que querem trabalhar e alunos que querem boicotar as aulas. Acabou qualquer tipo de selecção. O que é que acontece? Os pais com dinheiro pegam nos seus filhos e colocam-nos onde não há misturas. Mas os pais que não têm dinheiro e cujos filhos querem trabalhar levam-nos para onde?
Veja-se como, em nome da igualdade, se destrói a escola pública, se protege as elites económicas e se aniquila a vida a milhares de alunos que querem estudar, mas não podem ir para o ensino particular, e têm de suportar os comportamentos mais nefastos dos colegas. É isto que vai suceder na escola pública portuguesa, como aconteceu nos outros lados. Aliás é isso que já sucede muitas vezes. O que me impressiona é que, neste admirável mundo novo projectado pelo sociologês, ninguém cora de vergonha.
Imagine o leitor que é pai de um filho aplicado que quer estudar. Imagine, ainda, que esse seu filho tem múltiplos colegas de turma que, como ele, querem estudar. Imagine, mais uma vez, que caem dentro da turma quatro ou cinco alunos que não partilham os interesses académicos dos restantes colegas e têm por actividade preferida boicotar sistematicamente as aulas, impedir que se trabalhe, criar uma situação de indisciplina generalizada. Pode crer que não são precisos mais de três a quatro alunos para o conseguir.
Imagine ainda, o leitor, que não pertence às classes médias e altas, mas que vive do seu trabalho por conta de outrem, com sacrifício. O que é que pretende para o seu filho? Que ele esteja integrado numa turma onde possa trabalhar ou que todas as turmas sejam uma mistura entre alunos que querem trabalhar e alunos que preferem boicotar as aulas? É este o problema.
Estes estudos têm uma finalidade política interessante: legitimam mudanças na lei. Mas não percamos a capacidade de imaginar e pensemos na seguinte situação: todas as turmas das escolas públicas passam a ser uma mistura entre alunos que querem trabalhar e alunos que querem boicotar as aulas. Acabou qualquer tipo de selecção. O que é que acontece? Os pais com dinheiro pegam nos seus filhos e colocam-nos onde não há misturas. Mas os pais que não têm dinheiro e cujos filhos querem trabalhar levam-nos para onde?
Veja-se como, em nome da igualdade, se destrói a escola pública, se protege as elites económicas e se aniquila a vida a milhares de alunos que querem estudar, mas não podem ir para o ensino particular, e têm de suportar os comportamentos mais nefastos dos colegas. É isto que vai suceder na escola pública portuguesa, como aconteceu nos outros lados. Aliás é isso que já sucede muitas vezes. O que me impressiona é que, neste admirável mundo novo projectado pelo sociologês, ninguém cora de vergonha.
1 comentário:
É isto o que se chama de imperialismo académico...há, no entanto, vários estudos feitos por todo o mundo sobre as vantagens e desvantagens do ensino público e do ensino privado. Num artigo que traduzi há pouco tempo, de Gustavo Fishman, e em que foram entrevistados vários alunos e professores de dois estabelecimentos de ensino público e de outros dois estabelecimentos privados, sobre as vantagens de um sobre o outro, na Argentina, não se chegava a conclusão definitiva. Em ambos os lados surgiam vantagens e desvantagens.
Por mim e, utopicamente, dado o estado da questão, sou completamente a favor de um ensino público para todos, criando-se as estruturas para superar as dificuldades existentes, quer fossem apoio psicológico, escolar, subsídios, bolsas e, até mesmo, EDucação Cívica obrigatória a começar pela pré-primária. Se, já de si, a clivagem entre ricos e pobres é injusta e desumana, no que diz respeito à possibilidade de QUALQUER cidadão ter direito ao ensino, pela Constituição, mas se ver empurrado depois para estabelecimentos «menores» só porque provém da «área» dos menos ricos é um insulto. É ridículo e estúpido. Quantos génios não têm surgido provindos precisamente das classes sociais mais baixas? (detesto falar em classes sociais mais baixas, a expressão nem sequer deveria existir)...Então, e os meninos que entram para as universidades privadas (outra praga)pagando anos lectivos a peso de oiro por que não tiveram nota para entrar nas universidades públicas? E conheço muitos que são oriundos das classes ditas «altas»...E, mesmo ao nível do ensino básico e secundário públicos, a escola A nunca deveria ser inferior à B apenas porque é frequentada por um número maior de crianças ou adolescentes problemáticos...NÃO HÁ RAPAZES MAUS, há problemas estruturais de educação, de falta de dinheiro, de fome até. Quantas crianças e adolescentes em Portugal não vão para a escola sem ter tomado o pequeno-almoço?
Coro de vergonha, sim.
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