As comemorações do regicídio
Portugal tem muito pouco que discutir, prova de que não existem problemas. O que move corações é esse real problema das comemorações do regicídio e a presença do exército da República nessas celebrações fomentadas por monárquicos saudosos de curvar a espinha perante S. Majestade. O regicídio é uma data que não merece qualquer tipo de comemoração oficial e que a República portuguesa está impossibilitada de decretar data de luto nacional. Todos os regimes políticos têm um pecado original. O da República é o assassinato de D. Carlos. Mas a monarquia nacional começa também com um crime de sublevação contra o legítimo detentor do poder, dir-se-ia um crime de traição, e uma revolta contra o poder materno, aliás como a dinastia dos Braganças. Isto não torna os regimes menos legítimos. Muitas vezes o crime é motivo de orgulho nacional, pois é nele, no sangue que corre, que a comunidade se funda. Na origem do poder está sempre presente o crime. É da natureza da coisa.
É também despropositada a tentativa de branquear a imagem política de D. Carlos, um manobrador nato, e a natureza do regime, supostamente liberal, instituído em 1834. D. Carlos é uma personalidade, do ponto de vista humano, bastante simpática. Mas o incensado regime liberal monárquico – veja-se o artigo de Rui Ramos no Público, de hoje – não passa de uma trama de arranjos e cunhas, de tráfico de influências, de manipulação grosseira de eleições e de manipulação não menos grosseira das instituições por parte do Rei e dos chefes políticos, cada um procurando sobreviver, no meio de um país pobre e paralítico. O assassinato dos dois Braganças foi um crime hediondo, como o seria de outros chefes políticos. Mas isso não faz de D. Carlos um dos grandes da história de Portugal e não obriga as instituições da República a autoflagelarem-se e a servirem de suporte à causa monárquica. Basta um silêncio respeitoso.
É também despropositada a tentativa de branquear a imagem política de D. Carlos, um manobrador nato, e a natureza do regime, supostamente liberal, instituído em 1834. D. Carlos é uma personalidade, do ponto de vista humano, bastante simpática. Mas o incensado regime liberal monárquico – veja-se o artigo de Rui Ramos no Público, de hoje – não passa de uma trama de arranjos e cunhas, de tráfico de influências, de manipulação grosseira de eleições e de manipulação não menos grosseira das instituições por parte do Rei e dos chefes políticos, cada um procurando sobreviver, no meio de um país pobre e paralítico. O assassinato dos dois Braganças foi um crime hediondo, como o seria de outros chefes políticos. Mas isso não faz de D. Carlos um dos grandes da história de Portugal e não obriga as instituições da República a autoflagelarem-se e a servirem de suporte à causa monárquica. Basta um silêncio respeitoso.
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