30/01/08

Papel que se rasga - 2. Na demorada trégua do leito

Na demorada trégua do leito,
tudo se abre à transparência:
a lava fugaz do desejo,
as pardas manhãs de domingo,
a matéria tão escura da morte.

Sobre o linho do lençol,
há uma mancha de água.
Ao abrir-se, vêm estrelas,
a erva rasa do corpo
e um anúncio de deuses,
ali mesmo, na demorada
trégua onde me deito.

[JCM. Papel que se rasga. 1978]

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