14/01/08

Pretérito Imperfeito - V. Entre vestígios de cal

Entre vestígios de cal
abre-se um espaço bravio
um ardor colhido pelos braços,
uma dor que a tudo esmaga.

Ao longe, num horizonte de arbustos,
crescem montes, restos de calcário,
a esperança ferida pelos dedos ocultos
no segredo tão esquivo dessa mão.

Que fizeste da ânsia com que aos dias
te entregavas?
Morreu-te o instinto e tudo é sombra,
folhas a desesperar nos ramos,
restos de uma história sem reis nem soldados,
o caminho perdido
onde caem como tu loucos os animais.

[JCM. Pretérito Imperfeito. 1981]

1 comentário:

maria correia disse...

Belíssimo poema este, sombrio, imperfeito como a Criação que, apesar de tudo, é bela...