27/01/08

Índia, a maior democracia do mundo

Acabei de ver, na RTP 2, o último episódio da série da BBC, A História da Índia, escrita e apresentada por Michael Wood. Vi diversos episódios, sempre com bastante interesse. Este olhar permitiu-me perceber uma Índia já muito longe dos estereótipos ocidentais. A Índia ensimesmada na contemplação, a Índia cujo vigor dionisíaco teria conduzido à inanidade búdica, na perspectiva do Nietzsche de a Origem da Tragédia, é agora uma nação pujante demográfica, social, económica e politicamente. Mas tudo é feito sem abjurar a sua tradição profunda, sem perder a riqueza do hinduísmo e do budismo. Isto, mais uma vez, leva-me a reflectir sobre a relação entre a religião e a política. Não é apenas o cristianismo que contém germes que permitem construir sociedades democráticas. A Índia é a maior democracia do mundo. É-o não apenas devido à colonização inglesa, mas à própria cultura indiana que, apesar de ser uma cultura fundada sobre o regime de castas, encontrou nos ensinamentos das suas religiões a força simbólica suficiente para construir uma sociedade política plural. Veja-se o naufrágio do vizinho Paquistão, também ele parte integrante da Índia enquanto colónia inglesa. O que fez com que Índia e Paquistão tivessem seguido caminhos tão diferentes? A cultura, a dimensão simbólica, a natureza da religião. Enquanto o Islão não encontrar ou reforçar a dimensão da benevolência, ele será um problema para o mundo, mas também para os muçulmanos.

1 comentário:

maria correia disse...

Concordamos. Vi ontem o último episódio e lamento não ter visto os outros...Isto de trabalhar ao computador, à noite, tem, por vezes, os seus quês...De facto, a Índia é hoje a maior democracia do mundo...creio que, neste caso, a maior influência para que isso acontecesse foi a do budismo e do hinduísmo, apesar da ideia de castas...(e, no fundo, os nossos conceitos de clero, nobreza e povo não terão também a ver com a noção de castas?». É que, tanto no hinduísmo como no budismo, existe, subjacente, a ideia de que todos somos iguais, de que partimos de uma matriz comum, de que todos estamos cá com uma missão, com um propósito, a de um trabalho indiviudal e colectivo para ALGO de melhor, seja isso a comunhão com Deus, com o cosmos,o atingir um nirvana qualquer...é a ideia da reencarnação. Creio que isso tem feito mais pela Índia do que quaisquer imposições de ideiais democráticos ocidentais, à força, por parte de quaiquer potências do Ocidente. Enfim, qualquer coisa como o ideal democrático grego epifanicamente re-ligado á religião.