Pretérito Imperfeito - III. Da imperfeição do destino ninguém fala
Da imperfeição do destino ninguém fala.
Retiveram as palavras as águas de Setembro
e Deus, cansado de luas,
retirou-se para o silêncio
e entregou-se à decadência das estrelas
ou ao templo a arder à luz das velas.
Havia perfeição em tudo o que faziam
e as horas cumpriam-se em ser horas
até desaguar noutras horas
e a palavra morrer entre os dentes.
Abriram as vidraças
e o hálito da terra veio pelo vento;
soprava tempestades,
restos de memórias,
um campo de poeiras e silvas,
as indústrias sobre o rio,
um comércio de guarda-pó,
a missa breve em S. Pedro.
Cansado de silêncio,
Deus é agora um sopro
ou uma história
ou uma fresta de cal
batida pelo vento.
[JCM. Pretérito Imperfeito. 1981]
1 comentário:
"Havia perfeição em tudo o que faziam
e as horas cumpriam-se em ser horas
até desaguar noutras horas
e a palavra morrer entre os dentes" - creio que não é preciso ser crítico encartado para gostar...
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