30/11/07

Pink Floyd - Another Brick in the Wall

Pink Floyd - Another Brick In The Wall Colocado por djoik

Faz hoje 28 anos que foi editado The Wall, um dos maiores êxitos dos Pink Floyd, numa altura em que o grupo perdera já o vigor dos primeiros tempos. Mais do que o disco ou a música dos Pink Floyd, o que merece atenção e meditação é o êxito de Another Brick in the Wall. Estamos em 1979 e começava a dissolver-se a repercussão dos ideais de 60, nomeadamente daqueles que vieram na sequência das crises universitárias, sendo a mais conhecida a de Maio de 68, em França. Muitos dessas crises acabaram em práticas folclóricas, outras no terrorismo, outras ainda na integração na insípida e inodora vida burguesa, motivo maior da contestação dos jovens filhos família.

A canção Another Brick in the Wall tornou-se então profética. Basta ver o vídeo para perceber o que estaria já a germinar e que permitiu tamanho acolhimento do álbum dos Floyd. A imagem do professor dada pelo vídeo, apesar de caricatural, retrata já a forma como era compreendida a educação e o papel dos professores no mundo ocidental.

Se olharmos para a letra o que descobrimos de essencial? A escola como lugar de opressão (controlo de pensamento) e depois, um pouco como os jovens filhos família de 68, o grito programático pela libertação: não precisamos de educação, de controlo de pensamento, de humor negro. Professores deixem as crianças em paz. A alteração essencial é que, agora, já não são os jovens adultos com problemas hormonais que se revoltam, mas a instigação da revolta em crianças e adolescentes. Não é a Universidade e a sua relação com a vida que está em causa, mas a escola e o papel desta na formação da comunidade e o papel do professor na formação do consenso social que permite aos membros de uma dada comunidade política quererem viver uns com os outros. O ataque é à escola, ao professor, mas acima de tudo o ataque é àquilo que o professor representa nas sociedades modernas: o formador da comunidade política. O ataque é à própria comunidade política.

O interessante é que esta ideologia entrou na esfera da governação e nos últimos vinte a vinte e cinco anos tem sido o pano de fundo de muitas políticas educativas no Ocidente em geral e em Portugal, a partir da estapafúrdia reforma de Roberto Carneiro e Cavaco Silva, em particular. Subjacente às medidas políticas educativas, nomeadamente às do actual governo, há a convicção de que os professores não passam de uns sádicos incompetentes, uns incapazes que sublimam a sua puerilidade e impotência na castração violenta das crianças. É aqui, no sadismo castrador, que os governantes colocam, por exemplo, os «chumbos» dos alunos. Concomitante a esta visão sulfurosa dos professores existe a visão idílica dos alunos, crianças e jovens que não aprendem apenas porque, à sua frente, encontram aquela gente destituída de qualquer traço de humanidade.

É curioso olhar para a forma como o actual governo vê a educação. Aparentemente oposta à dos Pink Floyd. Mas só na aparência. A escola a tempo inteiro, estatutos de alunos e professores, as regras práticas de vivência dentro das escolas têm apenas uma finalidade: não que o professor ensine e os alunos aprendam, mas que o professor, essa besta infernal de outros tempos, seja agora, devido à alquimia imposta pelo novo Estatuto, não um professor mas um gestor e um libertador da criançada, um emancipador que faça felizes os jovens, que se ponha à sua frente e cante com eles, ao som dos Pink Floyd: We don't need no education / We dont need no thought control / No dark sarcasm in the classroom / Teachers leave them kids alone / Hey! Teachers! Leave them kids alone! É talvez por isto que a senhora ministra, ao contrário do Procurador-Geral da República, não acha muito preocupante a violência contra professores.

O preocupante não é apenas o papel dissolutório da escola e a imbecilização acentuada das novas gerações, o preocupante é que estas políticas se inscrevem numa estratégia de destruição dos Estados a partir de dentro. O que está em causa é muito mais do que a educação, o que está em causa é a destruição das condições que possibilitam a existência de comunidades políticas nacionais. O que está em causa é a existência de um pseudo-cosmopolitismo disfarçado que visa destruir as comunidades nacionais para que alguns grupos possam dominar sem esses empecilhos que são os Estados. Em tudo isto não há inocência e, muitas vezes, o que parece oposto está muito longe de o ser.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ando a explorar nas horas vagas (ou fazendo batota, entre a realização de uma e outra tarefa) este magnífico blogue que descobri há relativamente pouco tempo e do qual já sou verdadeiramente fã - daí os meus comentários se apresentarem um tanto ou quanto desfasados... Mesmo assim, não resisto em comentar alguns posts mais antigos.

Concordo com a sua análise que, como sempre, expõe com grande sabedoria, profundidade e clarividência os problemas de fundo da educação e os malefícios das políticas educativas dos últimos anos.

Ainda assim, adoro a música, mesmo tendo a letra que tem - acho que tenho um fundozinho rebelde, mas recalcado. :)
Os Pink Floyd são uma das minhas bandas preferidas. "Deliro" (passo o exagero) com temas tais como "Wish You Were Here", "Shine On You Crazy Diamond", "The Dark Side of the Moon" e tantos, tantos outros!
Alice N.