A Cidade Flutuante - 19. Não sou livre na minha cidade
Não sou livre na minha cidade,
os olhos estão presos ao chão
e os passos pesados
deixam marcas de ferro
em ruas negras de alcatrão.
O vento açoita-me as faces
e tudo em mim é silêncio,
breve memória,
um gosto de dor,
uma ferida a sangrar,
o prazer d’abrir discórdia.
Não sei o nome que deram ao rio,
mas ele aqui passa,
tranquilo e lento
como se sorrisse
e assim um adeus
lhe nascesse nos braços.
Rumorejam as tardes na minha cidade
e eu sonho com Ítaca rodeada de mar,
as brancas mãos de Penélope
que tecem,
tecem o manto
onde a noite me irá amortalhar.
Não sou livre na minha cidade.
[JCM. A Cidade Flutuante. 1993/2007]
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