A Cidade Flutuante - 9. Quando os teus olhos
Quando os teus olhos
eram os olhos de domingo
e vazia te sentavas ao meu lado,
a cidade erguia-se da penumbra
e havia castelos e rios e praças
e gente de mãos dadas.
As paredes abriram frestas
e se tudo reluz
não é sol o que brilha
mas a noite de néon,
a tudo cobre, a tudo declina.
Os domingos já não têm olhos,
nem na penumbra se ergue uma cidade.
Caíram os castelos,
secaram os rios
e nas praças quem passa apenas vai,
caminha na noite de néon,
olhos rasos, o corpo inclinado,
pedras de cinza a tombar para o chão.
[JCM. A Cidade Flutuante, 1993/2007]
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