Manuel António Pina - Interesse público
Nunca serão suficientemente louvadas as pinças deontológicas com que jornais e TV pegam em casos criminais que envolvem muitos zeros. E seria tema interessante para uma tese a volubilidade de conceitos jornalísticos como o de "interesse público", que este fim-de-semana fez com que tantos jornalistas corressem para a porta de um tribunal onde eram interrogados uns árbitros e uns dirigentes do futebol regional, suspeitos de câmbio de 500 euros pelo resultado de um jogo (neste momento, já todos os portugueses estão informados sobre o nome, idade, estado, profissão e morada de cada um deles) e ninguém se tenha interessado minimamente por saber quais são as "grandes empresas" que o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais acusou de estarem envolvidas em crimes de fraude fiscal, provavelmente de valor superior (digo eu, que tenho uma imaginação perversa) a 500 euros. Bem tentou o secretário de Estado espicaçar a curiosidade de jornais e jornalistas com a lista das "1000 maiores empresas portuguesas" e bem o presidente da CIP deixou cair, como as senhoras pudicas de antigamente deixavam cair o lenço, a pista das construtoras civis. Em vão. O "interesse público" da semana era o Lamego-Cinfães. E a notícia que o resultado foi, mais euro menos euro, 2-2. [Manuel António Pina, Interesse público, Jornal de Notícias, 19/11/2007]
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