A Cidade Flutuante - 14. Vem pelo mês de Março
Vem pelo mês de Março
um vento sombrio,
a chuva cai em bátegas de pedra
sobre a cal das paredes
e a água desliza em turbilhão,
o rio a sustém.
Ouve-se sirenes
e uma agitação de homens e máquinas
cresce pelas ruas,
tinge o ar,
deixa pegadas no chão.
É uma cidade flutuante,
Março a traz no seio,
com cuidado a carrega,
e quando nasce
há metais em combustão,
um barulho de barcos
sob as pontes
e nas colinas, ao poente,
ocultam-se os deuses
na solidão.
Em silêncio, a cidade mergulha
e nas águas de Março,
tocada pelo vento,
ergue as asas e flutua.
[JCM. A Cidade Flutuante. 1993/2007]
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