XII - Coro e timpani "...non ho paura della morte..."
Para o Eduardo Bento,
pelos anos dedicados a
mostrar o que há de
imortal na face dos deuses.
27/03/2006
Tomou banho o velho Sócrates e de corpo tão limpo
dos amigos dos mais queridos entre aqueles que lhe queriam
se despediu. Devemos um galo a Asclépio, disse e fechou
os olhos mesmo se antes não desistira de aos seus sondar,
esconder a vertigem, o coração encobrir. À mulher afugentou:
em casa chorasse se chorar fosse a vontade.
Nem só de atenienses se rodeara. Também de Mégara e de Tebas
vieram, pois a morte de todos os lados aos mortais puxa, e não há
lugar na Terra de amplo seio, ou na Hélade à barbárie avessa
que homens aos homens não gostem de ver, mesmo se tranquila e serena
mesmo se horrível e violenta, a morte chegar. Sentaram-se e
conversaram, enquanto a benfeitora caminhava, atravessava as ruas,
procurava, em desconcerto e ânsia, pela cidade de Atenas
o corpo do velho corruptor, ainda a falar, a falar,
os amigos dolosos inquietos pelo destino breve e o filósofo,
tão preso no seu desprendimento, tão cansado da vida,
pronto para que a caminhante que não pára chegasse e como
uma amante, mais bela que Alcibíades o fora, no leito o tomasse.
A morte, não a teme ele, mas ilumina-o a ira do deus:
Críton, devemos um galo a Asclépio… Paguem-lhe, não se esqueçam!
O que tanto falara pelo silêncio tomado, os amigos choram,
Diotima esquecida na penumbra. Resta nas cruas paredes da prisão
o aprisionado eco onde, ainda hoje, os caminhantes ouvem
a última interrogação: Paguem-lhe!, disse e a morte,
esquecida do calendário dos homens, confundiu-o com Lázaro e passou.
dos amigos dos mais queridos entre aqueles que lhe queriam
se despediu. Devemos um galo a Asclépio, disse e fechou
os olhos mesmo se antes não desistira de aos seus sondar,
esconder a vertigem, o coração encobrir. À mulher afugentou:
em casa chorasse se chorar fosse a vontade.
Nem só de atenienses se rodeara. Também de Mégara e de Tebas
vieram, pois a morte de todos os lados aos mortais puxa, e não há
lugar na Terra de amplo seio, ou na Hélade à barbárie avessa
que homens aos homens não gostem de ver, mesmo se tranquila e serena
mesmo se horrível e violenta, a morte chegar. Sentaram-se e
conversaram, enquanto a benfeitora caminhava, atravessava as ruas,
procurava, em desconcerto e ânsia, pela cidade de Atenas
o corpo do velho corruptor, ainda a falar, a falar,
os amigos dolosos inquietos pelo destino breve e o filósofo,
tão preso no seu desprendimento, tão cansado da vida,
pronto para que a caminhante que não pára chegasse e como
uma amante, mais bela que Alcibíades o fora, no leito o tomasse.
A morte, não a teme ele, mas ilumina-o a ira do deus:
Críton, devemos um galo a Asclépio… Paguem-lhe, não se esqueçam!
O que tanto falara pelo silêncio tomado, os amigos choram,
Diotima esquecida na penumbra. Resta nas cruas paredes da prisão
o aprisionado eco onde, ainda hoje, os caminhantes ouvem
a última interrogação: Paguem-lhe!, disse e a morte,
esquecida do calendário dos homens, confundiu-o com Lázaro e passou.
[Jorge Carreira Maia, 12 Poemas sob Il Canto Sospeso, de Luigi Nono]
2 comentários:
Obrigado pelo belo poema.Jorge, devemos todos um galo a Asclépio.
Certas mulheres e homens é preciso afugentá-los. Eles continuam a matar Sócrates. Sócrates, o outro. O de Lisboa não tomará banho antes da morte nem tem o coração limpo.
Um abraço.
Eduardo Bento
Quem sabe se E. Bento não terá mesmo razão!
"...Não tomará banho antes da morte nem tem o coração limpo"...
Ele vem de alguém que conta "anos dedicados a mostrar o que há de imortal na face dos deuses"...!
A ver vamos.
Bem! Mas "poesia - em mim"... É bom, mesmo!
Mande mais, Jorge Maia.
Gosto.
Gostamos todos, aposto.
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