08/04/07

O eterno retorno do mesmo...

Descubra as semelhanças

“A 30 [de Janeiro de 1892], Oliveira Martins reapareceu, para revelar ao país «a extensão das nossas amarguras»: havia um défice de 10 000 contos, o equivalente a 25 % das receitas, e uma dívida flutuante de 23 000 contos. Para evitar a «bancarrota», propôs um drástico agravamento dos impostos, cortes nos ordenados dos funcionários e deduções de 30 % nos juros da dívida pública interna. Aboliu ainda o subsídio ao teatro da ópera de São Carlos e suspendeu indefinidamente as admissões na função pública.” [Rui Ramos, D. Carlos, pp. 87]

Desequilíbrio das contas públicas, agravamento de impostos, corte nos ordenados da função pública, suspensão de admissões na mesma função pública. Tal como agora. Até o nome de Oliveira Martins continua presente passados 115 anos, agora no Tribunal de Contas. Guilherme d’Oliveira Martins é um descendente de Oliveira Martins, um dos ministros da Fazenda de D. Carlos. Em Portugal, parece que tudo tende a perpetuar-se, das dívidas às famílias protagonistas da cena política.

Descubra as diferenças

“Mais uma vez, o rei resolveu solidarizar-se com a nação. Logo a 29, enviou uma carta aber­ta ao chefe do governo: «Querendo eu e a família real ser os primeiros nos sacrifícios que as circunstâncias do Tesouro impõem à nação», cedia 20% da dotação. «Em tudo e por tudo, hei-de seguir a sorte da nação, à qual reputo essencialmente ligados os meus destinos e os da mi­nha dinastia.»” [Rui Ramos, D. Carlos, ibidem]

Imagina a classe política actual, perante o défice, a tomar uma atitude idêntica? Se imagina, então está a viver uma alucinação. O que o actual governo fez foi atacar certos sectores inofensivos do funcionalismo (pequenos funcionários, professores, etc.) e recatar-se a si e aos sectores de que tem medo (militares, magistratura, catedráticos).

A discussão das retribuições da classe política é sempre muito mal vista. Apesar de partilhar a ideia de que ela, classe política, não é particularmente bem paga, o problema diz respeito à justiça, enquanto virtude das instituições políticas, e liga-se à distribuição dos sacrifícios numa situação como a actual. Um acto idêntico ao do penúltimo Bragança, acto esse que incluísse uma clara redução dos gastos envolventes da acção política – secretárias, motoristas, carros, assessores, etc., etc. –, não esquecendo neste pacote as câmara municipais, não só cairia bem na população como permitiria ao governo tomar medidas mais difíceis, mas que implicassem uma real e efectiva distribuição dos sacrifícios por todos, pelo menos por todos os que se encontram ligados ao Estado.

A forma como o actual governo atacou violentamente alguns sectores que prestam serviço no Estado português aliada ao modo como resguardou outros, e entre estes a própria classe política, mostra a venalidade das nossas elites políticas.

Talvez tenham razão. A Carlos de Bragança pouco valeu a sua disponibilidade. Não escapou, passados anos, ao assassinato.

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