Cartas de Iwo Jima
Antes de falar no filme, ou nos filmes, chamo a atenção para as sessões de cinema do Virgínia. Para as quartas-feiras há uma excelente programação de cinema, naquilo que julgo ser, sem certeza absoluta, uma parceria entre a Câmara Municipal e o Cine Clube de Torres Novas. Para além da qualidade da programação, há também o conforto e as condições acústicas de uma excelente sala. Ambas, programação e sala, merecem retribuição, isto é, a presença de espectadores. A minha começou ontem, para ver Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood.
O filme deverá ser visto em paralelo, mais precisamente, a seguir à obra, também de Eastwood, As Bandeiras dos Nossos Pais. Ambos têm por pano de fundo a batalha, entre americanos e japoneses, pelo controlo de uma pequena e estratégica ilha nipónica, Iwo Jima, na II Guerra Mundial. Os filmes dão a ver os dois lados da batalha, mas ao mesmo tempo revelam as duas sociedades e os dois mundos que se confrontam, mundos com ethos (maneiras de ser e viver) bastante diferenciados.
Se no primeiro filme, o cinema de Eastwood nos mostra a vitória americana, a heroicidade daqueles que estão no inferno que é o campo de batalha, manifesta, por outro lado, a duplicidade e os jogos que o poder político nas sociedades democráticas, fundadas na opinião pública, impõe aos heróis, mesmo que esses heróis apenas o sejam para consumo dessa opinião pública. A fragilidade das sociedades democráticas, com a avidez e a venalidade da sua classe política, é exposta cruamente em As Bandeiras dos Nossos Pais. Não que haja desprezo pela heroicidade daqueles americanos que se batem duramente em Iwo Jima, pelo contrário. Eastwood, para além da crítica feroz que faz ao ethos americano, à sociedade civil e à sociedade política, mostra a nobreza e a coragem dos indivíduos que se bateram por aquele pedaço de terra perdido nas águas do mar. Apesar da guerra ser um movimento colectivo, Eastwood não deixa de sublinhar a importância dos indivíduos, dos indivíduos concretos que morrem e matam.
Em Cartas de Iwo Jima, o realizador mostra-nos a derrota japonesa e sublinha o ethos tradicional japonês. Aqueles homens estão ali para se baterem até à morte pelo sagrado solo do Japão e pelo seu imperador. Não há lugar para a publicidade, nem para campanhas de propaganda, nem para uma esfera pública democrática a ser convencida. Há a hierarquia, o código de honra militar, de natureza quase feudal, há um sentimento de que algo está acima de cada um e é por esse algo que aqueles homens se baterão e morrerão. Se no primeiro filme, a sociedade americana é claramente mostrada, no segundo, apenas, e de muito longe, se deixa entrever a sociedade japonesa, suspeitando-se da crueldade que nela poderia existir, do poder excessivo que a instituição militar poderia ter.
O que ressalta de ambos os filmes, apesar da diferença culturais em presença, são os valores do dever, da honra, da coragem, mas também da humanidade do trato (veja-se o comandante das tropas japonesas), a compreensão pelo destino dos homens quando são arrancados, pela violência da guerra, dos seus afazeres comuns. Na base de tudo isto, encontra-se o indivíduo. Só ele é corajoso ou cobarde, só ele cumpre ou não o dever, só ele morre ou sobrevive. Mas este indivíduo não é um puro átomo isolado. Ele inscreve-se em sistemas comunitários e éticos diferenciados, que a guerra afasta e torna adversos, mas, ao mesmo tempo e no confronto face a face, faz descobrir a pertença comum a uma mesma humanidade: aqueles soldados, japoneses ou americanos, têm mãe, e namorada, e esperanças de ter uma vida para além do campo de batalha.
O filme deverá ser visto em paralelo, mais precisamente, a seguir à obra, também de Eastwood, As Bandeiras dos Nossos Pais. Ambos têm por pano de fundo a batalha, entre americanos e japoneses, pelo controlo de uma pequena e estratégica ilha nipónica, Iwo Jima, na II Guerra Mundial. Os filmes dão a ver os dois lados da batalha, mas ao mesmo tempo revelam as duas sociedades e os dois mundos que se confrontam, mundos com ethos (maneiras de ser e viver) bastante diferenciados.
Se no primeiro filme, o cinema de Eastwood nos mostra a vitória americana, a heroicidade daqueles que estão no inferno que é o campo de batalha, manifesta, por outro lado, a duplicidade e os jogos que o poder político nas sociedades democráticas, fundadas na opinião pública, impõe aos heróis, mesmo que esses heróis apenas o sejam para consumo dessa opinião pública. A fragilidade das sociedades democráticas, com a avidez e a venalidade da sua classe política, é exposta cruamente em As Bandeiras dos Nossos Pais. Não que haja desprezo pela heroicidade daqueles americanos que se batem duramente em Iwo Jima, pelo contrário. Eastwood, para além da crítica feroz que faz ao ethos americano, à sociedade civil e à sociedade política, mostra a nobreza e a coragem dos indivíduos que se bateram por aquele pedaço de terra perdido nas águas do mar. Apesar da guerra ser um movimento colectivo, Eastwood não deixa de sublinhar a importância dos indivíduos, dos indivíduos concretos que morrem e matam.
Em Cartas de Iwo Jima, o realizador mostra-nos a derrota japonesa e sublinha o ethos tradicional japonês. Aqueles homens estão ali para se baterem até à morte pelo sagrado solo do Japão e pelo seu imperador. Não há lugar para a publicidade, nem para campanhas de propaganda, nem para uma esfera pública democrática a ser convencida. Há a hierarquia, o código de honra militar, de natureza quase feudal, há um sentimento de que algo está acima de cada um e é por esse algo que aqueles homens se baterão e morrerão. Se no primeiro filme, a sociedade americana é claramente mostrada, no segundo, apenas, e de muito longe, se deixa entrever a sociedade japonesa, suspeitando-se da crueldade que nela poderia existir, do poder excessivo que a instituição militar poderia ter.
O que ressalta de ambos os filmes, apesar da diferença culturais em presença, são os valores do dever, da honra, da coragem, mas também da humanidade do trato (veja-se o comandante das tropas japonesas), a compreensão pelo destino dos homens quando são arrancados, pela violência da guerra, dos seus afazeres comuns. Na base de tudo isto, encontra-se o indivíduo. Só ele é corajoso ou cobarde, só ele cumpre ou não o dever, só ele morre ou sobrevive. Mas este indivíduo não é um puro átomo isolado. Ele inscreve-se em sistemas comunitários e éticos diferenciados, que a guerra afasta e torna adversos, mas, ao mesmo tempo e no confronto face a face, faz descobrir a pertença comum a uma mesma humanidade: aqueles soldados, japoneses ou americanos, têm mãe, e namorada, e esperanças de ter uma vida para além do campo de batalha.
1 comentário:
O Cinema às Quartas é uma parceria entre o Teatro Virgínia e o Cine Clube de Torres Novas. Neste e noutras actividades, o Cine Clube tem tido algumas boas parcerias com a Câmara Municipal. Só é pena é não haver mais parcerias e apoios a outras colectividades do concelho.
Quanto ao blog, deixe-me felicitá-lo. Parabéns. É um blog interessante, com uma temática bastante diversificada. A algum tempo que sou visita regular...
Cumprimentos
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