24/04/07

Onde é que estava na noite de 24 de Abril de 1974?

Se me perguntassem, saberia dizer. Estava no velho Cine-teatro Virgínia a ver um filme. Era, tanto quanto me recordo, uma 5.ª feira. Às quintas-feiras havia a chamada sessão de cinema de qualidade. Naquela noite, o filme, muito curiosamente um filme russo, era Djamilia, uma adpatação cinematográfica da obra-prima, segundo parece, com o mesmo nome, do escritor Tchinghiz Aitmov. Não me recordo do filme, exceptuando umas imagens de searas de trigo a ondular. Mas mesmo isso pode ser apenas uma memória construída a posteriori, aliás como muitas das nossas memórias. O próprio nome da realizadora, Irina Poplavskaia, não me diz rigorosamente nada.

Nunca mais tornei a ver o filme. Pensei, várias vezes, em comprar o livro, mas acabei sempre por o não fazer e jamais o li, embora não tenha qualquer razão para isso. Mas nunca esqueci que na última noite do regime de Marcello Caetano estive a ver, com um grupo de gente nova – nesses dias eu tinha 17 anos – então ligada ao Cine Clube e à oposição, um filme russo. Era uma espécie de anunciação. No outro dia, o regime tinha caído. Como? De podre! Não tinha ponta por onde se segurasse. Não pense o eventual leitor que Djamilia era um filme político, não era. Tanto quanto li, na pequena investigação que agora fiz, tratava-se de uma história de amor passada na Quirquízia, uma das repúblicas da então URSS.

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