XI - Orchestra
A relva pisada pelos cães crescia anónima
nos dias já um pouco maiores. O Inverno
deixava entrever como uma promessa a Primavera e
havia bandeiras dispersas casas, um rumor surdo
suado os passos se escutavam se eram passos
mais pareciam vozes alumiadas, penduradas nos raios
que da lua o vento desprendia. Tudo neste mundo
e no outro também se repete. Um círculo tão perfeito,
a superfície inundada de erva, os lados um pouco rombos
um círculo tão perfeito, exclamara para logo de seguida
como o tempo tinha acabado calar-se.
Precisamos de falar, tudo é uma ameaça:
Os sons, as mãos esventradas, os carros a passar,
os prédios como gruas a crescer, o ar das cidades,
a luz amarela, ainda não há centros comerciais, talvez
na América, lá há tudo isso, mas também é uma ameaça,
bem como os cães a ladrar durante o dia, as
crianças com insónia, mais do que tudo os sons, os sons. Só te quero
ouvir disse a rapariga ao telefone e ao telefone se calou,
olhos espetados no vidro da cabine, não as cabines
ainda não são de vidro um dia, de ar ou de éter. Talvez!
Precisamos de falar, preciso de te ouvir…
Admirara-se da perfeição de tudo, admirara-se da própria
perfeição. Depois, deixou-se levar pelo caminho e da casa
pois era de casa que se afastava afastou-se. Leu repetidamente
A primeira obrigação é acreditar que a nossa condição,
quanto à sua origem e à sua essência, é uma condição
desesperada que necessita de uma redenção. Repetiu mil
vezes a palavra redenção e toda a redenção se tornara
pela subtil mecânica uma impossível redenção. Disse
Erlösung e não acreditou no que disse enquanto da casa se afastava
pois era dela que vinha como se precisasse de falar e
por isso pisava a pisada relva que os cães abandonaram e
anónima crescia nos dias já um pouco maiores ainda no Inverno.
[Jorge Carreira Maia, 12 Poemas sob Il Canto Sospeso, de Luigi Nono]
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