Baleal, a sombra do mar
Quem não gostar de areia, pode dar uma volta pela ilha, melhor pela península. Apesar da colonização humana, apesar das casas e dos carros, o espaço ainda é visitável e permite contemplar, de múltiplos lugares, o mar, ouvir, uma vezes, o cicio, o sussurro das ondas e, outras, o bater trovejante da água na pedra dura e imóvel. Pode olhar as Berlengas, ao longe, fechar os olhos e sonhar com viagens marítimas, aventuras coloniais e terras ultramarinas. Depois, sonhe-se com baleias e grandes caçadas. Sentado numa esplanada, não se iluda se vir, ao longe, uma massa branca em movimento. Não, não é Moby Dick, a baleia branca, nem atrás virá o terrível capitão Ahab. São apenas nuvens, pedaços de mar a fugir das águas e a perderem-se na pureza azul do céu. Há dias que é possível ver, de relance, Posídon, o terrível sacudidor, deus indisposto e feroz que persegue os heróis. Mas, num tempo como o nosso, quem se preocupa com isso? Nem heróis há para terem tal preocupação, nem acreditamos nos deuses que estão perante o nosso olhar.
O sol está alto e chegou a hora de almoço. Sim, Peniche, ali mesmo ao lado, tem variegadas possibilidades. Mas tome o IP 6 e corte logo, nos primeiros metros, para a estrada que leva à Consolação. Quando chegar ao cruzamento para esta praia, siga em frente em direcção a S. Bernardino. Entrando no Lugar da Estrada, uma daquelas aldeias que cresceram ladeando uma estrada em linha recta, espere até encontrar, à sua direita, um restaurante com o estranho nome Faz as Pazes.
Que conflitos e guerras terão levado a tão estranho nome, não faço ideia. Seja como for, encha-se de um espírito pacífico e entre. A sala não é pretensiosa nem grande, mas acolhedora. Sob o trabalho de um casal, ele na cozinha e ela na sala, vai encontrar uma bela refeição, uma cozinha esmerada, onde se combina o tradicional com a singularidade de quem a produz, tudo num ambiente discreto e cheio de simpatia. Para entrada, o refogado de mexilhões ou o queijo de cabra salteado com azeite e alho. Experimentou-se a «raia cozida com molho de pitau», um molho da tradição local, feito à base de azeite, alho, vinagre e colorau. O molho dá vida à raia, ao mesmo tempo que lhe sublinha as qualidades, joga como uma espécie de contraponto dialéctico à brancura fistulada do peixe. Como será de imaginar, pela localização, há vários pratos de peixe. Depois, na carne, não perder o «miminho de boi com pimentas», onde um naco de excelente carne açoriana grelhada se combina com uma multiplicidade de pimentas, acompanhadas por batatas fritas às rodelas

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