02/04/07

VIII - Coro e orchestra "...le porte s'aprono"

Se para nada ouvir os lírios dessa forma tão inquieta
cantassem… Tudo circula e na circulação a matéria
perde o peso, o ar sobe, a leveza é agora uma virtude.
De que se escondem os que nas águas-furtadas se abrigam?
Chegam já perto dos deuses e trazem nas mãos nuvens
os olhos cansados, a penumbra o mundo divide.

Os ramos esfriados de Invernos seguram
pelos pés os pássaros, as asas entreabertas como se o voo
uma longa premeditação fosse. Os pássaros de
Inverno; assim começa um demorado pensamento
sobrancelhas arqueadas, cara descaída para o livro
das horas. Da janela, escutava-se a voz dos lírios e

a luz entardecia no canto que se escutava.
Quando as mãos mergulhadas na frieza da água
seguram a terra molhada, os barcos partem
extasiados, remos rentes, os remadores parados
na fria noite. Se pudesse, escreveria a tua história,
mas os países são tropos breves onde tudo se resguarda.

[Jorge Carreira Maia, 12 Poemas sob Il Canto Sospeso, de Luigi Nono]

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