06/04/07

Se até o FMI...

O “Público” de hoje noticiava que o Fundo Monetário Internacional (FMI) reconhece, pela primeira vez, que a globalização (considere-se,por exemplo, o aumento de mão-de-obra disponível) está a aumentar as desigualdades sociais nos países ricos. Reconhece o FMI a redução da parte do rendimento que é distribuída pelo factor trabalho.

Isto toda a gente já tinha percebido. Também se tinha percebido que a intensificação da globalização pouco ou nada tinha a ver com uma repentina ternura para com o mundo de leste e a China, mas que foi estrategicamente planeado pelos interesses dos grandes grupos económicos multinacionais, como meio para encontrar mão-de-obra quase escrava. Tudo isto foi logo, como se tornou um triste hábito, abraçado pelas elites políticas ocidentais, numa clara e insidiosa traição aos povos que as elegeram. O notável é ser agora o FMI a reconhecer a situação difícil a que se está achegar nos países desenvolvidos, nomeadamente o aumento das desigualdades sociais.

Por que motivo fala agora o FMI? Medo. De quê? Do retorno de políticas proteccionistas. O caso não é para menos. Veja-se o exemplo de Portugal. No quadro actual, sejamos honestos, qual a saída que se vislumbra para o país? Nenhuma, no processo de globalização, tal como tem decorrido, o país é consistentemente inviável.

E o que recomenda o FMI? Ó desespero dos ultra-liberais, recomenda, segundo o “Público” “apostar na educação e fortalecer o sistema de segurança social”. Isto é, aumentar a intervenção estatal na sociedade como factor equilibrante. Então não tínhamos de destruir o Estado-previdência? Não havia que privatizar tudo? O Estado não deveria reduzir-se ao mínimo, isto é, às leis para defesa da propriedade? Agora terá de gastar dinheiro com a protecção dos mais frágeis, aqueles que só merecem perecer?

Esta remediação proposta pelo FMI foi a política europeia durante dezenas de anos, foi ela que fez o sucesso da Europa. Foi a ela que, desde há uns anos, começaram a destruir, quando se quis acabar com o «pacto social-democrata» que vigorou na União, construído pelo socialismo democrático, à esquerda, e pela democracia cristã, à direita.
Ou terá sido o FMI infiltado?

1 comentário:

bicho_mau disse...

Mas não será o meio-termo económico em que estanciaram as democracias ocidentais, o principal responsavel pela violente cavalgada neo-liberal?

No fundo, ao abandonarem-se os esforços de construçao socialista -que em teoria ponteavam nos inicios de 90 nos programas do SPO ou do SPD - não se abriu caminho a dependencia absoluta da politica face a economia?