SONETO DITADO NA AGONIA
Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura;
Conheço agora já quão vã figura,
Em prosa e verso fez meu louco intento:
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura.
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... a santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
(Manuel Maria du Bocage)
1 comentário:
São para mim os versos mais comoventes de Bocage.
E sem dúvida que ele teve razão no que escreveu.
É também cada vez mais essa a minha convicção.
Há que crer na eternidade !
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