16/03/07

Escola e barbárie

Este bric-a-brac pedagógico faz das obras literárias simples «instrumentos» ou «suportes» de um método de aprendizagem que visa fazer adquirir o mais rapidamente possível as competências operacionais, em detrimento do tempo necessário à formação da sensibilidade e do juízo crítico (jugement). Despreza a significação de uma obra literária enquanto ela abre para a interrogação, exprime a condição humana, fornece aos jovens referências e pontos de orientação na construção de uma identidade. Tudo isto no período de questionamento que é a adolescência. Aplicada ao ensino, a lógica das competências apaga as finalidades específicas da escola num sentimento estreitamente adaptativo e favorece o desenvolvimento duma relação utilitarista à cultura. Ela é a negação prática da cultura como elemento essencial daquilo que produz o humano. [Jean-Pierre Le Goff (1999/2003). La barbarie douce. La modernisation aveugle des entreprises et de l'école. Paris: La Découverte]. Tradução do excerto JCM.
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Quem quiser perceber o lixo que o actual Ministério da Educação está a impor às escolas portuguesas deverá ler o livro do sociólogo Jean-Pierre Le Goff. Note-se, no entanto, que a primeira edição é de 1999. Para nós, portugueses, está completamente actual. Sem tirar nem pôr. Este é o retrato do desastre educativo francês, aquele mesmo que conduziu às revoltas dos banlieus, aos carros queimados, etc. Uma socióloga como a Ministra da Educação talvez aprendesse alguma coisa, se é que a senhora está interessada em saber o que quer que seja. O que estamos a preparar? De forma doce, a barbárie...

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