28/03/07

III - Coro a capella "...muoio per un mondo"

Está adiantado quando chegam os primeiros frios Novembro.
Nas terras onde nasci, tudo se rege pelo Sol e se o astro ilumina,
pouco já aquece. As vozes, embotadas pela claridade,
falam do setentrião, das neves que se anunciam,
as cidades quebradas, suspensas nas grilhetas que sobre elas
o tempo endureceu. Oiço as vozes, todos os dias oiço as vozes e calo.

Zimbórios, como sobre eles podem deixar os homens
escorregar os olhos, as madeixas de cabelo ao vento, o ensurdecedor
ruído da varejeira. Nunca o mundo aprenderemos a interrogar
a tudo tapa a esquiva pele da raposa. Ali semeia uma fonte,
o sangue a derramar-se, as vítimas curvam-se na silhueta do algoz:
Choro, se os olhos estão cansados e tudo vacila…

Nas mãos, enquanto cantam, trazem sinais, pequenas marcas
de fogo, breves símbolos de água e erva. Vozeiam e logo
os sons rasgam o silêncio imitando as tardes em que a esperança
a todos se permitia. Era tudo tão límpido, dizem. Agora apenas
sabemos soletrar e se da boca saem sons guturais, não é da
garganta que vêm, mas do fundo onde o medo que cresce esconde.

Ondas progridem na planície deserta, nas cidades infestadas de cactos,
na trémula respiração as máquinas se abatem
no frio Inverno, ora se anuncia. Oiço as vozes, mas não consigo chorar
nem articular sei as sílabas, aí onde o terror pela manhã de cinza
me aguarda. Quando a noite se aquieta, a sombra caminha para longe.
Oiço as vozes, mas aos primeiros frios só o ruído escuto dos cabelos ao vento.

[Jorge Carreira Maia, 12 Poemas sob Il Canto Sospeso, de Luigi Nono]

Sem comentários: