A dignidade do trabalho
Que não se continue, portanto, a mascarar o que existe no seio desta civilização socrática! Um optimismo que se julga ilimitado! Que não nos deixemos assustar por vermos amadurecer os frutos deste optimismo; por vermos a sociedade, corroída até às suas camadas mais baixas, a revolver-se pela agitação dos apetites e das invejas; por vermos a crença de toda a gente na felicidade terrestre; por vermos, enfim, a crença numa civilização geral do saber transformar-se, a pouco e pouco, numa reivindicação ameaçadora desta felicidade terrestre alexandrina, sob a influência desse deus ex machina à Eurípides! Impõe-se pois a seguinte observação: para continuar a durar a civilização alexandrina não pode prescindir de uma classe de escravos, mas é obrigada, pela sua visão optimista da existência, a negar a necessidade dessa classe e caminhará então gradualmente para uma destruição desastrosa, quando se tiver esgotado o efeito das belas palavras, tão sedutoras quanto lenitivas, acerca da «dignidade do homem» e da «dignidade do trabalho». (F. Nietzsche, A Origem da Tragédia.) (Quadro: E. Munch - Nietzsche)
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Para meditação dos espíritos modernos. O texto é de 1871. Actual como tudo o que é grande. Estas poucas linhas valem 500 páginas de Marx. E Marx é um grande autor, mas sofre de optimismo e acredita na «dignidade do trabalho». É, ao contrário de Nietzsche, um filho de Hegel. Não será toda a modernidade uma doença? Talvez uma doença fatal... Daquelas que apenas apresentam sintomas benignos, mas que sob eles ocultam o que há de mais terrível.
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Para meditação dos espíritos modernos. O texto é de 1871. Actual como tudo o que é grande. Estas poucas linhas valem 500 páginas de Marx. E Marx é um grande autor, mas sofre de optimismo e acredita na «dignidade do trabalho». É, ao contrário de Nietzsche, um filho de Hegel. Não será toda a modernidade uma doença? Talvez uma doença fatal... Daquelas que apenas apresentam sintomas benignos, mas que sob eles ocultam o que há de mais terrível.
1 comentário:
Quando o Homem se arroga à solidão, crendo que se basta a si mesmo, busca formas de se confortar e preencher o vazio que provocou. Toma o trabalho como divindade e alguns até o lucro como “santo”! Transforma o Outro num número, num braço multiplicador ao serviço da sua “companhia”...
É só daí que vêm os "escravos" e os espoliados. Um dia pedirão tudo de volta e então, aí sim, as "belas palavras", apenas compreendidas pelos "santos", não bastarão para travar a avalanche dos povos famintos, e a colaboração dos escravizados.
"Só Deus salva". Foi a centelha que falhou sempre no entendimento do filósofo.
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