07/03/07

Contributos para um desastre anunciado

Voltemos a António Barreto. Agora, porém, por péssimas razões. Leiam-se os seguintes extractos do artigo do último Domingo, no Público.

“Não são ideias novas. Há muito que algumas pessoas as defendem ou estudam. A primeira: a entrega do sistema de ensino básico e secundário às comunidades locais, incluindo nestas as autarquias, as associações existentes, os pais e os interesses locais, assim como, evidentemente, os professores.”

“No caso do ensino básico e secundário, foi o presidente da Associação Nacional de Municípios, Fernando Ruas, que assim se exprimiu. Garantiu que as câmaras municipais querem essa transferência e que já a estão a preparar. Acrescentou que estão interessadas em assumir todas as competências, incluindo as de recrutamento e colocação de professores, de gestão, de investimento e até de disciplina. E esclareceu que as únicas competências que deveriam ficar nas mãos do ministério seriam as pedagógicas. Creio que é a primeira vez que as câmaras se exprimem desta maneira. É quase uma revolução”.

Saberá António Barreto que Portugal não é a Suíça, onde viveu, nem a Finlândia?

Saberá o que é entregar, em Portugal, as escolas às câmaras, às associações, aos interesses locais (sic) e até aos professores? Vive em que planeta? Não percebe que tudo o que a comunidade tem de desprezo pelo saber, toda a cultura adversa à aprendizagem, ao rigor, à exigência, vai entrar, dessa maneira, e de uma forma ainda mais poderosa e radical nas escolas? A cultura de pechisbeque das autarquias vai fazer carreira na escola, os interesses locais vão minar o ambiente , o compadrio, ah esse, como deve estar a esfregar as mãos…

Quem disse a António Barreto que uma revolução, ou mesmo uma quase revolução, é uma coisa boa?

Queremos ensino de qualidade? Centralizemos a educação, fechemos as portas das escolas às comunidades, dêem-se condições, avaliem-se com rigor os alunos e os professores pelos resultados dos seus alunos, responsabilizem-se professores, alunos e famílias. Fora disto, em Portugal, qualquer coisa, como se viu, será um desastre.

Porque será que as autarquias querem – depois daquela saborosa experiência com os dinheiros para pagar os professores das expressões (Inglês, etc.) do 1.º ciclo, dinheiro esse que chegava apenas, a muitos desses professores, numa percentagem absolutamente ridícula – gerir a educação? Então as autarquias não hão-de querer? Não hão-de querer gerir escolas, colocar professores, etc., etc. E os interesses locais? E os pais? E os professores? Vai ser um fartar vilanagem...

Parece que o país enlouqueceu de vez e está toda a gente apostada em destruir o que resta de Portugal.

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