O Intendente, o Cardeal, o Pastor e a minha brotoeja
Os dias passam, a brotoeja cresce. Esta história do superpolícia era hoje, no Público, comparada, pelo historiador Rui Tavares, ao superpolícia do Marquês de Pombal, o Intendente Pina Manique. A curiosidade é que o Intendente sobreviveu a quem o criou, com todas as capacidades de intendência que tinha. Morto D. José, D. Maria, pouco dada aos fervores iluministas, corre com Pombal, mas Pina Manique lá fica.
É uma espécie de Intendente que o seráfico Sócrates pretende agora reavivar, sob suas angelicais ordens, em tempos de crise. Por falar em serafins e outras legiões angélicas, parece que José Sócrates está a caminhar não para a glória do poder, a essa já chegou, mas para a dos altares. Veja-se o trabalho hagiográfico do Sol, a começar pela beatífica fotografia da 1.ª página (www.sol.pt). Depois, no caderno Tabu, lá se narra a miraculosa e miraculada vida do santo, com pecados e tudo, pois santo que seja santo, terá de ter sido um grande pecador. Tome-se em consideração o veraz exemplo de Agostinho de Hipona e de Inácio de Loyola, gente estouvada que subiu à glória dos altares.
É aqui que entra o cardeal. Qual? Esse mesmo, o prefeito da congregação para a causa dos santos, o cardeal Saraiva Martins. Apesar de Bento XVI não parecer particularmente dado à fabricação de beatos, o nosso cardeal podia meter uma cunha (sempre somos portugueses) e começava já, ainda em vida, a canonizar o nosso futuro S. José Sócrates, aquele que combina a régua do carpinteiro com a diatribe do sofista, enfim um verdadeiro pastor de almas.
Se o nosso primeiro-ministro, aquele que precisa de um Intendente, é um verdadeiro pastor, justifica-se ainda mais a sua canonização. Há apenas que reescrever a história de Fátima, acrescentar mais um pastorinho, que esteve congelado uns anos, e agora, (milagre, milagre - grita-se) veio ao mundo para salvar, com intendência, a pátria. Não lhe faltarão fiéis, pelo menos enquanto tiver poder, e mesmo se não faz milagres, pelo menos não deixa de os anunciar com vigor, convicção e paciência de um verdadeiro santo.
Seja como for, a questão da intendência e a canonização jornalística fazem-me brotoeja. E quanto mais se coça…
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