31/03/07

Pobre mestre...

Carlos Fiolhais escrevia hoje no público sobre o programa da TVI, “A Bela e o Mestre”. A dada momento diz e cito “Um mestre aparece identificado com um monstro na versão portuguesa deste telelixo”. E interrogava-se ele, que mais do que mestre é doutor, “Mas que mal fizemos nós? E por que motivo o mestre ou, por maioria de razão, o doutor aparece associado ao terror e ao mal?”

A questão é pertinente e não deixa de ser interessante perguntar o que significa o desprezo que toda uma civilização começa a votar à figura do mestre. Aqui, todavia, separo-me de Fiolhais. O mestre morreu quando se tornou professor e, por maioria de razão, professor universitário. Deixou de ser uma figura estrutural da vida da comunidade e passou a ter uma função, isto é, passou a ser funcionário, público ou privado.

No mestre (possuidor de mestrado) e no doutor (possuidor de doutoramento) já não ressoa o antigo «magister». Houve um empobrecimento ontológico da figura. O mestre não era apenas sábio (possuidor de conhecimento), mas também sage (possuidor de saber existencial). O mestre não era um título académico, mas uma forma de existência reconhecida pela comunidade, como o santo, o guerreiro, o artista, o magistrado.

Este empobrecimento ontológico da figura do mestre, da sua decadência de mestre em professor, certamente habilitado e dotado de inteligência (como seria doutor, não é?), mas já sem sabedoria de vida abriu o caminho para esse mestre, agora professor, ser visto de forma bizarra, em primeiro lugar, e de forma odiosa, de seguida. O mestre já não tem autoridade e, por isso, não passa de ridícula figura no mundo moderno.

Ridículo porque necessita de uma autoridade que ninguém reconhece, odioso porque ainda usa um sucedâneo dessa autoridade: ensina e classifica alunos, por enquanto.

A TVI é que sabe. Ela está na vanguarda e representa o espírito do tempo e do mundo…

1 comentário:

Anónimo disse...

Parece que a manter-se este itinerário, o futuro não se afigura risonho.
Contudo, está também sempre um pouco nas nossas mãos, a definição do rumo a trilhar.
Há aqui que encontrar formas de se ser convenientemente subversivo e de resistir não colaborando com o desmantelamento total do que ainda resiste.
Isto por parte de nós, simples mortais, incapazes de compreender os altos desígnios dos iluminados que têm orientado a nossa (des)educação.