O quase sagaz Portas
Discutir Paulo Portas a partir da divisão tradicional esquerda/direita é pura perda de tempo. Não porque as categorias esquerda/direita já não façam sentido. Fazem. Mas o que mais me interessa neste anúncio do seu regresso é a encenação. Paulo Portas é inteligente, bastante, tem leituras, é sagaz. Encena-se à maneira da tragédia grega. Encena que tem um destino a cumprir e isso transpira em cada palavra que diz, nas frases que compõe. Em todo o discurso da anunciação do retorno à liderança do CDS (chamar-lhe-ia a parusia de Paulo Portas), não houve uma ideia política, mas a proclamação de alguém que se acha destinado a seja lá ao que for. Quando sublinhou a vontade de Sócrates (Portas falou em determinação), foi para dizer que ele, Portas, também era um Titã, o único que poderia fazer frente a esse outro Titã socialista. Paulo Portas não nos veio anunciar uma política, mas a titanomaquia.
É aqui que falha a sagacidade de Portas. O seu narcisismo impede-o de olhar a realidade. Sócrates não é um Titã. É um mero mortal escorado na conjuntura e, ao mesmo tempo, temendo essa mesma conjuntura. Portas precisa de engrandecer o inimigo para, ele mesmo, parecer grande. Eis a fragilidade do novo/velho candidato à liderança das hostes do Largo do Caldas. A grandeza não se encena, tão pouco o destino. O destino não está nas mãos dos homens. São os acontecimentos com as suas provações que mostram se um homem tem ou não um destino. Quando se encena, com a veemência com que Portas o faz, um destino, não é o sublime trágico que está no fim da linha à espera do herói, mas o burlesco da comédia que transforma o candidato a deus em bufão.
1 comentário:
É simples. Se o PSD concorrer em 2009 com Marques Mendes, Portas terá o apoio de uma boa parte da Direita, que dará força a uma oposição mais forte, que Portas representa só pelo seu estilo.
Essa será a sua vitória. Aumentar o número de deputados do PP e trazer protagonismo ao partido. E consegui-lo-á certamente.
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