06/03/07

O Jeb e a nossa senhora da Educação

Eu sei, eu sei. A origem familiar, o país de proveniência, o cargo desempenhado, a cor política, tudo isto torna a personagem, aos olhos de muitos, pouco digna de crédito. E no entanto…

Jeb Bush, americano, ex-governador da Florida, irmão do actual Presidente, por certo republicano, apesar destes defeitos todos, conseguiu uma proeza extraordinária: inverteu a situação caótica da educação no Estado da Florida, tornando-o, hoje em dia, um exemplo para todos os EUA.

Como conseguiu este feito? Não foi inventando disciplinas estrambólicas como aquelas que existem no currículo português, nem perseguindo os professores, nem protegendo as crianças contra as exigências. Não seguiu nenhuma das reformas que os políticos portugueses tanto gostam. Não, não fez nada disso.

Destruiu alguns mitos, oiçamo-lo: 1) provámos que reter e acompanhar alunos do terceiro ano com rendimento fraco acaba por lhes dar maiores oportunidades de êxito no longo prazo; 2) testemunhámos, em primeira-mão, que exigir os mesmos padrões elevados a todos os alunos aumenta o seu êxito e melhora a taxa de conclusão dos estudos; 3) provámos que os professores não “ensinam para os testes”, mas sim em função dos padrões determinados pelos educadores; 4) Finalmente, demonstrámos que a responsabilização compensa.

Resuma-se: 1) reter um aluno pode compensar; 2) altos padrões de exigência são fundamentais; 3) responsabilizar é fundamental.

Como fez ele isso: 1) generalizou os exames (oh, palavra maldita em Portugal) entre o 3.º e o 10.º anos (cá dir-se-á: coitadinhos, tão pequeninos e já a fazer exame. O governo, qualquer que fosse, era logo demitido pela multidão em fúria. Por isso, cá agora existem provas aferidas que não contam para os alunos, é só para avaliar sabe-se lá o quê); 2) com os resultados destes exames organizou rankings credíveis, o que estimulou a competição entre escolas (coisa que cá faria cair outro governo); 3) com base nos resultados, premiou escolas e os professores (cá apenas se perseguem professores).

Veja-se o trabalho da senhora ministra da educação: andou a falar em avaliar professores, e em qualidade, diferenciação dos bons e dos maus, etc., etc. Agora chegou a altura de estabelecer regras para os professores chegarem a professor titular. Surpresa (minha não): nenhum item de avaliação contempla resultados dos alunos. Professores que andaram anos e anos a levar alunos a exame, a mostrar o que valiam, ou não, em provas públicas, estão em pé de igualdade com os outros. Não existe qualquer item, nem para disfarçar, que faça referência à qualidade do desempenho dos professores, nem aos resultados dos seus alunos em exames nacionais. Isso de ensinar com altos padrões de qualidade serve para quê? E depois se os alunos aprendessem mesmo, era um aborrecimento... Vão ser escolhidos os professores titulares à sorte, pois a sua escolha depende dos cargos que desempenharam e esses, na escola, são aleatórios e nada têm a ver com o mérito.

O pessoal que odeia os americanos, incluindo os da Florida, poderia fazer o favor de mandar para lá a nossa senhora da Educação mais os acólitos e os funcionários eduqueses do ME, para ver se, todos juntos e unidos, davam cabo daquilo…

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