18/03/07

Leggio VI

Se tudo tão distante se tornou, as casas, as silhuetas
As ruas espinhadas de gente. Roncos de máquinas
Motorizados e frementes, se tudo tão distante se tornou,
As praças abertas para o rio, o vento, o vento as traz
Consigo, ao bater nos telhados. Ressoa uma canção,
Horas que ao silvar longe se ouvem, presas na solidão.

Em cadência imprecisa deixo os olhos vogar entre
Ruas e avenidas e espero a súbita sombra que a luz
Ao morrer em canto incerto faz cair. Abandonados,
Entre quintais vis e esfacelados, muros cobrem-se
De ervas, memória da terra a germinar na cidade.
No céu, um tremor de nuvens, astros e breve claridade.

As vozes sumidas entram pelas casas e escondem
O nada que as inflama. Tão cansadas, falam como se
A um deus orassem e nada dizem, e nada ouvem, vozes,
Ecos, o tempo as esqueceu, debruadas de silêncio,
Gradadas ervas sujeitas ao mar. Quando subo, de gente
Mirram as colinas, moinhos à espere que vente.

A distância aumenta se as ruas em desvario corro
E há homens e mulheres afadigados entre hotéis
Vazios e jardins fanados, castanheiros de úlceras
Cobertos. Nas estradas, pombos, gatos alados, as
Vísceras às varejeiras oferecem. Noite, tudo se cerra
E se alguém fala é na cidade a voz vinda da terra.

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