Modernidade: aceleração e destruição
A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, por conseguinte as relações de produção, por conseguinte todas as relações sociais. A conservação, sem alterações, do antigo modo de produção era, pelo contrário, a condição primeira de existência de todas as anteriores classes industriais. O permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos distinguem a época da burguesia de todas as outras. Todas as relações fixas e enferrujadas, com o seu cortejo de vetustas representações e concepções, são dissolvidas, todas as recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se (Obras Escolhidas de Marx e Engels, Tomo I, Edições Avante, pp. 109/10).
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Esta leitura de Marx sobre o papel social das classes empresariais modernas, a que ele dá o singular nome de burguesia, é uma radiografia – melhor, uma ecografia – da natureza da modernidade. A revolução permanente não é uma descoberta do marxismo, ou do trotskismo, mas do mundo empresarial moderno. A dissolução dos costumes e a destruição das tradições são exigências do modo de produção dito capitalistas. A burguesia, usando a nomenclatura marxiana, não é, por essência, conservadora. Pelo contrário, devido a tudo o que Marx aí explica, ela tem sempre um papel revolucionário de destruição das concepções e das representações que o homem faz da realidade. Ela, pela sua acção social, gera sempre uma espécie de terramoto epistemológico, onde se vê, lançados por terra, os antigos edifícios do saber e do representar. Esta essência revolucionária está assente em dois alicerces. O primeiro diz respeito ao tempo. A necessidade de revolução permanente do modo de produção e dos mercados gera uma percepção do tempo singular. O tempo social torna-se cada vez mais rápido e afastado da própria capacidade humana. A aceleração do tempo produtivo e de consumo torna as pessoas rapidamente obsoletas, incapazes de acompanhar os ritmos poiéticos e as próprias concepções que lhes subjazem. O segundo é o niilismo. A verdadeira natureza do desenvolvimento empresarial não reside na produção, mas na destruição. Para que novos produtos se imponham ou sejam consumidos, é necessário que os outros sejam abandonados e/ou destruídos. A capacidade produtiva é apenas um epifenómeno do niilismo presente no mundo empresarial moderno. A essência é a destruição, o reduzir à insignificância o produto ontem lançado. Aceleração do tempo e destruição contínua são, objectivamente, os produtos da modernidade. O diagnóstico de Marx está absolutamente certo, a terapia proposta é, porém, completamente inadequada, até porque não há qualquer terapia, a não ser o impossível retorno às formas de vida conservadoras e aristocráticas.
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