Uma ontologia fatídica
Começa hoje a contagem decrescente para as comemorações do primeiro século da República portuguesa. O evento tem passado despercebido, fora algumas bravatas infantis dos pequenos sectores monárquicos existentes. A questão, porém, é se valeu a pena. Terá valido a pena substituir a Monarquia pela República? Terá valido a pena os quase dezasseis anos de agitação política da I República, os quarenta e oito anos de ditadura do Estado Novo, os anos do PREC e, por fim, os cerca de trinta anos de democracia rotativista? Se a Monarquia não tem caído há noventa e nove anos, o país teria caminhado de maneira diferente e melhor? Não teria sido derrubada pouco depois? Conjecturas que nunca poderão ser confirmadas nem refutadas. Aquilo que se sabe, contudo, do liberalismo monárquico, do rotativismo entre progressistas e regeneradores, da forma como os políticos, acolitados pelos reis, distribuíam entre os seus cargos e prebendas, não augurava nada de bom para o Reino de Portugal. Há uma espécie de ontologia fatídica que nos prende à nossa maneira de ser, independentemente do regime. Se essa não for alterada, e nada garante que o seja, República ou Monarquia é indiferente. A coisa funcionará sempre mal.
Adenda: o Presidente da República apelou hoje, como lhe competia, para a união em torno dos "grandes ideais republicanos". Mas como iremos nós deixar de ser aquilo que somos?
Adenda: o Presidente da República apelou hoje, como lhe competia, para a união em torno dos "grandes ideais republicanos". Mas como iremos nós deixar de ser aquilo que somos?
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