09/10/09

Uma visão de Torres Novas



A edição semanal, em papel, do Jornal Torrejano traz, a propósito das eleições autárquicas, um conjunto de dados sócio-demográficos de Torres Novas e dos vários concelhos envolventes. Cansado, entretive-me a estabelecer uma relação entre número de eleitores e número de licenciados - vamos admitir que todos os licenciados dos concelhos são eleitores nesses mesmos concelhos. Os resultados são curiosos. Vejamos a percentagem de eleitores licenciados: Alcanena – 8,3%; Constância – 7,1%; Entroncamento – 16,9%; Golegã – 8,7%; Torres Novas – 11,9%; VN da Barquinha – 9,8%.

Quem conhece estes concelhos percebe de imediato o peso de duas coisas. Por um lado, a dimensão do concelho; por outro, a sua natureza urbana ou rural. Entroncamento, apesar de não ser o concelho com mais população, é aquele que é completamente urbano. Isso explica a grande diferença na percentagem de licenciados relativamente a Torres Novas. Talvez existam outras razões. Julgo, porém, que entre essas muitas razões há uma, quase subterrânea, que terá uma importância não irrelevante. Trata-se de o Entroncamento ter tido ensino liceal público uns anos antes de Torres Novas. Isso gerou um outro tipo de relação com o saber, relação essa que se foi transmitindo de geração em geração.

Estes dados mostram, por outro lado, a pouca capacidade de Torres Novas fixar gente com formação superior. Significa isso que o tipo de trabalho existente é ainda pouco exigente e pouco diferenciado. Também se percebe, por aí, que Torres Novas não tenha, ainda hoje, uma classe média social e culturalmente diferenciada, como se o concelho continuasse a ser uma emanação de um mundo essencialmente rural e operário. Esta é a grande desvantagem de Torres Novas. Não tem massa crítica suficiente, mesmo comparado com outros concelhos semelhantes, mas com burguesias locais mais fortes e tradicionais. Torres Novas precisa de formar os seus jovens e de os fixar, eles ou outros. Pena os partidos políticos terem mais que fazer do que pensar nestas coisas. A própria transferência da FERSANT para Santarém tem um significado que não convirá desligar daquilo que aqui se disse.

2 comentários:

José Ricardo Costa disse...

Jorge, talvez não fosse má ideia esclarecer os leitores que não são de cá ou que nunca cá vieram, e cuja primeira imagem que têm de TN foi obtida através desta fotografia, que não estamos geminados com Istambul, Argel ou Casablanca.

JR

maria correia disse...

Em profunda reflexão,interrogo-me sobre o que fará Lisboa dos milhares dos seus jovens licenciados...ou dos jovens que aqui se licenciam...